Toc, toc, toc.
— Dona Vera, o dona Vera! É o Bruno do 10!
— Que foi? Isso lá são horas?
— É que tem um cachorro no meu quarto.
— Um cachorro?
— É.
— Isso não é bom, não é bom. Não aceitamos animais, muito menos um cachorro e dentro do quarto, isso não é bom.
— Ele tá lá.
— Vamos dar uma olhada. Isso não é bom.
— É um cachorro mesmo. Quando o viu pela primeira vez?
— Dona Vera, se liga, hoje eu saí para estudar e não tinha cachorro nenhum e ai, quando voltei, ele tava lá, por isso fui chamá-la.
— Ele te atacou, te mordeu, te arranhou?
— Não, só ficou me olhando.
— Vou chamar meu irmão, o Vilson, ele leva jeito com animais.
Toc, toc, toc.
— Abre logo Vilson, sou eu, a Vera!
— Que bosta, isso lá são horas de aparecer gritando na porta de gente?
— Tem um cachorro no prédio, no quarto desse infeliz.
— Ele latiu?
— Não, só ficou me olhando.
— Vamos ver isso, vou pegar umas coisinhas pra lidar com cachorros.
— Veja, ele ainda tá lá, bem onde o encontrei.
— Filha da puta, não é que é mesmo uma porra dum cachorro. Tenho que falar com o Dr. Uribe.
— Doutor? É o Vilson... tem um cachorro aqui... isso, um perro... tá bom... tá bom... sei... não, ele não latiu... tá, a gente espera... até.
— O doutor está vindo.
— Carajo, és un perro mismo y mui hermoso, sin embargo és un perro. Llamen aos bomberos!
Uóóóuuóó.
— Onde está o animal?
— Ali, por ali, naquele quarto.
— Quem mora no quarto?
— Eu.
— Hum! Vamos dar uma olhada nisso de perto mocinho. Meu Deus, pela Virgem Santa, é mesmo a porra de um cachorro! Isto está fora de nossa alçada, podemos, no máximo, dar suporte operacional, mas vamos ter de chamar a polícia. E quanto a você, não saia daqui.
Uóóóuuóó.
— Onde está o suspeito?
— Ali, perto da porta. Lá dentro está o cachorro.
— MÃOS NA PAREDE! ABRA AS PERNAS!
— O que foi que eu fiz?
— CALA A BOCA E PÕE AS MÃOS NA PAREDE!
— O cachorro, ele tá lá dentro...
— Fica quietinho e só fale quando te perguntar alguma coisa.
— AAAI, meu braço! Tá quebrando! Caralho!
— ATENÇÃO! O cachorro tá se mexendo. Parece... é isso mesmo! Ele vai cagar! AFASTEM-SE!
— E eu? Meu braço tá quebrado.
— Vilson, pega o guri e traga pra cá, ele nunca incomodou antes, sempre tão quieto, deve ser algum mal entendido.
— Mas não é o braço que tá quebrado, e não a perna!
— Capitão, o agente canídeo defecou.
— Rapaz, vá lá dentro e limpe aquela merda!
— Meu braço... tem um cachorro lá dentro...
— Não tente desviar a atenção com essa história de cachorro, você é o único responsável por essa confusão toda. Temos aqui dezenas de bons profissionais prontos a arriscar suas vidas para livrar a cara de bundões como você. Agora deixa de frescura, vá até lá e limpe aquela merda!
— Ele fez alguma coisa quando você o encontrou?
— Não, capitão, só ficou me olhando.
— Isso não tá nada bom, tem mesmo um cachorro lá dentro. Precisamos chamar a Força Nacional de Segurança Pública.
LM