Sunday, January 27, 2013

A mais linda das putas


As pessoas acreditam nas suas verdades, naquilo que imaginam ser a verdade, mas não sabem que a verdade não passa de uma puta, uma linda e sedutora puta, daquela que, a troco de qualquer ninharia, se entrega para o galã fazendo juras de amor eterno e de fidelidade canina. Pobre ingênuo, ela será somente dele até aparecer outro que lhe ofereça qualquer quinquilharia. Mesmo assim o conquistador exulta de prazer e, orgulhoso de sua conquista, se exibe e se vangloria de sua amada para todos e a defende aguerridamente dos outros pretendentes que afirmam serem os legítimos possuidores do amor, do corpo e da alma da volúvel dama.
Enquanto os contendores degladiam-se, insaciável, ela sai procurando novo amor, oferecendo-se para qualquer um que a queira possuir.

 N.A.: Para não me confundirem machista, aqueles que desejarem, poderão inverter os sexos dos personagens. Ficaria como segue abaixo, mas como não sou politicamente correto, a versão verdadeira é a primeira e quem quiser usar a segunda, que vá à merda.

As pessoas acreditam nas suas verdades, naquilo que imaginam ser a verdade, mas não sabem que a verdade não passa de um puto, um lindo e sedutor puto, daquele que, a troco de qualquer ninharia, se entrega para a dama fazendo juras de amor eterno e de fidelidade canina. Pobre ingênua, ele será somente dela até aparecer outra que lhe ofereça qualquer quinquilharia. Mesmo assim a conquistadora exulta de prazer e, orgulhosa de sua conquista, se exibe e se vangloria de seu amado para todas e o defende aguerridamente das outras pretendentes que afirmam serem as legítimas possuidoras do amor, do corpo e da alma do volúvel cavalheiro.
Enquanto as contendoras degladiam-se, insaciável, ele sai procurando novo amor, oferecendo-se para qualquer uma que o queira possuir.
 
LM

Listas sem explicação de coisas nem sempre explicáveis


Vivo com listas, essencialmente. Poderia fazer listas de quase tudo quanto sou e vivo. Algumas já as faço, por obrigação: compras, coisas para fazer durante o dia, locais para ir (do contrário, passo indiferente em frente aos lugares que devo parar), coisas que fiz durante o dia, coisas para fazer no dia seguinte. Algumas destas listas diárias têm sub-listas, divisões esquemáticas para simplificar a ordenação lógica. Nada nelas é importante, mas fazê-las me faz sentir mais importante.
Também faço listas de bens: livros, canetas, utensílios domésticos, roupas, amigos. O item livros dá origem a outras listas, como literatura, prosa, poesia, filosofia, estrangeiros, artes, inúteis; assim como os demais itens dos bens geram suas respectivas divisões lógicas. Se considerar aqueles que ainda me convidam para ir a suas casas, a lista dos amigos torna-se ínfima, aumenta um pouco se acrescentar os que aceitam os convites para virem à minha.
Umas são extensas, com centenas de itens, outras exíguas, contam com apenas um verbete. Eis alguns exemplos: 

Lista mínima de pequenos prazeres:
1.     Toalha de banho lavada e secada ao sol, sem passar (fica áspera).
2.     Uma hora a mais de sono.
3.     Uma hora a menos de serviço.
4.     Cerveja bem gelada à beira da praia às 18h45 em dezembro.
5.     Noites de outono.
6.     Pão francês com ovo frito e café preto às 8h30.
7.     Não trabalhar sábado nem domingo.
8.     Abrir um livro novo e sentir o cheiro das palavras.
9.     Abrir um livro usado e sentir o cheiro das memórias.
10.  Colher uma fruta e comê-la à sombra da árvore. 

Lista de coisas impossíveis, mas sonhadas:
1.     Ficar rico.
2.     Aprender a tocar violão.
3.     Entender as mulheres.
4.     Após uma noite de sonhos inquietantes, acordar metamorfoseado em um cara legal e popular.
5.     Ter uma adega subterrânea com vinhos daqueles que os entendidos dizem ao beber “Tem consistência do primeiro orvalho da primavera da Nova Zelândia e um leve toque de amoras cozidas no vapor de águas do degelo do Aconcágua...”.
6.     Morar em uma biblioteca tipo a de Washington.
7.     Poder viajar para qualquer lugar, a hora que quiser, levando quem eu quiser.

 Mulheres que gostaria de ter transado, mas jamais encostei sequer um dedo (e provavelmente nem se lembram mais de mim):
1.     Lourdes Maria. Era filha de uma vizinha quando eu tinha 10 anos, ela devia ter uns 14 ou 15. Nunca vi criatura mais linda. Foi a musa das minha primeiras masturbações. Ela mudou-se e nunca mais a vi. Ouvi rumores de que havia entrado para o ramo da prostituição.

2.     Eliane. Estudou comigo na sétima e oitava séries. Não era a garota mais bonita da turma, mas a única que falava comigo. Divina. Da turma, apenas ela fez faculdade, hoje é médica e mora no Canadá.

3.     Cátia. Foi minha vizinha no prédio para onde me mudei quando fui morar sozinho, aos 27 anos. Um pouco acima do peso, mas muito simpática, tinha um traseiro realmente notável, era esposa do síndico e corria o boato que dava para todos os moradores do prédio. Dispensável dizer que menos para mim.

4.      Arlineusa. O nome não é dos melhores, mas era encantadora. Trabalhava no bandejão onde eu almoçava quando trabalhei na Bosch. Sempre colocava um pedaço a mais de carne no meu prato. Nunca pude falar com ela, a fila me empurrava e só soube seu nome olhando o crachá. Um vez tentei espera-la na saída do restaurante, mas não a reconheci no meio das outras meninas que saiam no mesmo horário, sem o guarda-pó e touca brancos, não sabia da cor dos cabelos e não portavam os crachás. Deveria ter chamado pelo nome, não teriam duas, mais uma vez emudeci.  Não tive mais notícias dela.
Poderia acrescentar mais algumas garotas, como ainda não perdi as esperanças, ainda não cabem, por hora, nesta lista.
 

Lista de doenças das quais já fui acometido:
1.     Caxumba.
2.     Sarampo.
3.     Catapora.
4.     Icterícia, mas quando criança, falavam amarelão mesmo.
5.     Pedra no rim.
6.     Dor de ouvido.
7.     Dor de dente.
8.     Inflamação da vesícula.
9.     Diarreia.
10.  Febre amarela (odeio esta cor).
11.  Gonorreia.
12.  Virose (acho que todos os tipos).
13.  Pneumonia.
14.  Gripe (pelo menos umas 52 vezes).
15.  Unha encravada.
16.  Todo o tipo de dor de cabeça.
17.  Dor de cotovelo.
18.  Depressão.
19.  Surto psicótico.
20.  Transtorno obsessivo compulsivo.
21.  Transtorno bipolar.
22.  Leptospirose. 

Temo não resistir ao item 23 desta lista.

 LM

Saturday, January 05, 2013

Gosto de sangue na boca do lobo

 
Entre Natal e Ano Novo um abandono meio que toma conta da cidade, casas com jornais acumulando-se na varanda e um cachorro uivando de fome (sem ter os pedidos ouvidos, obriga-se a comer a ração com cara de serragem já úmida de dias chuvosos e rodeada de lesmas), uns comércios abertos outros fechados e a noite entra em período de trégua, sem as graças enfeitadas sob o luar. Os dias e noites se parecem, sem distinção de se domingo ou terça-feira. Ônibus preguiçosos amarelam a rua de hora em hora e na calçada semi-deserta um lobo solitário, caçador sanguinário, evita os clarumes dos postes. Ele aguça a visão, escuta o ar, fareja e então sente o cheiro indefectível de Cashmere Bouquet. Os sentidos estão alerta, o coração pulsa tenso e ele vai em direção à presa. Inocente sob a luz do último poste, não percebeu o perigo, o lobo já sente o gosto de sangue.
Maldição, esqueceu as palavras, tenta e lembra da mãe puxando o terço. Não, Aves-Marias não. A presa o viu. Passar reto? Ela se vira, está pronta para a fuga. Ave Maria cheia de graça. Ela tem rugas demais, mas é esguia. Bunda com enchimento? A caça arreganha as presas, faltam-lhe os dentes dos caninos para trás. Cara de cavalo, magra, um palmo mais alta do que o lobo solitário, ralos cabelos aloirados. Puta que o pariu, é um travesti.
— Oi gatinho.
— Oi.
— Quer se divertir um pouco? Tenho tudo que tu procura, tanto faz, tu que escolhe amor.
— Como assim tudo?
— Se quiser um cuzinho bem apertadinho e úmido, tá aqui. Agora se quiser ser comido bem gostosinho, tenho uma pica bem dura, não muito grossa, pra não machucar. Tu é tão novinho...
Escuta passos atrás. Não pode se virar, deve ser o resto da manada vindo em defesa da desgarrada. É preciso fugir, não poderá enfrentar a todos. Volta para a penumbra, aperta o passo e vira na próxima esquina. Finalmente um lugar seguro. Entra no Bar e Lanchonete Central e pede uma cerveja, um conhaque e um X-salada-egg no balcão. Disfarça, tira a carteira do bolso e conta o dinheiro para ter certeza de que vai poder pagar a conta. Não vai poder pedir outra cerveja, a garrafa já está quase no fim, é melhor deixar o restinho pra quando vier o X.  
Alguém senta na banqueta ao lado. É a, ou o cara de cavalo.
— Oi gatinho, saiu tão apressadinho. Paga um lanche?
— Só tenho grana pro meu.
— Tu é tão novinho, tão bonitinho, perdido na noite. A tia Rose cuida de tu. Deixa que eu pago pra tu, amorzinho.
Ela pediu outra cerveja, bem gelada, ele deixou de lado o restinho da sua garrafa e tomou de uma só vez um copo, desceu bem, toma rápido e sem fazer cara para mostrar que é durão.
Setenta e sete por cento dos ataques de lobos em caçadas resultam em fracasso. Já foram três esta noite. O lobo toma mais um copo de cerveja, sente o gosto do sangue.  
 

LM