O estrangeiro que desejar conhecer
Joinville não se decepcionará. Trata-se de uma cidade onde tudo e todos estão em
seu lugar, cada morador também sabe qual seu papel dentro da organização
social. Além disso, existem inúmeras atrações turísticas e belezas naturais
dignas de nota, sem falar no efervescente cenário cultural em constante
atividade. Claro, existem alguns pequenos inconvenientes, nada de muito grave,
mas que deve ser anotado, para não se criar a falsa expectativa de um lugar
absolutamente perfeito.
Primeiro vamos às principais qualidades
para, ao cabo, enumerarmos seus poucos inconvenientes.
Uma cidade, todos sabemos, não é feita
apenas de praças e monumentos (abundantes em Joinville), mas principalmente por
seu povo e isto é o que há de melhor em nossa terra. Como dito no introito,
cada qual sabe lugar e seu papel e todos são muito ordeiros e trabalhadores e
principalmente, do Bem. Se não vejamos: trata-se de uma cidade próspera, a
maior e mais rica de nosso estado, mas ainda assim alguns elementos (poucos) insistem
em manterem-se alheios à esta pujança, são moradores de alguns bairros mais
afastados. Não obstante à sua falta de iniciativa e esforço para compartilharem
da prosperidade citadina, estes indivíduos, ao menos sabem seu lugar e acham por
morar uns próximos dos outros, em locais afastados do centro, deixando a cidade
mais bonita, sem que o estrangeiro se depare com casas desleixadas e tipos
molambentos.
Outro exemplo gritante da ordem do nosso
povo diz respeito aos protestos populares. Ao longo da história muitos foram os
levantes populares e muitos desses culminaram com o engrandecimento da nação,
como no exemplo francês. Aqui não poderia deixar de ser diferente, quando o
povo não se sente plenamente representado pelas autoridades que receberam seu
voto no sufrágio universal, saem às ruas para exigir seus direitos de cidadão.
Isto enriquece a democracia e fortalece a cidadania, mas tudo tem um limite,
pois os manifestantes jamais ocupam ruas e praças públicas sem antes pedirem a
autorização dos órgãos competentes e o auxílio da polícia. Os órgãos
competentes concedem, então, um alvará para a realização da manifestação, que
terá hora e local previamente determinados para começar e terminar. Já a
polícia, fará a sinalização das ruas, afim de evitar congestionamentos no trânsito
e aborrecimento aos motoristas alheios aos protestos. Finda a manifestação,
cada um segue ordeiramente para sua casa.
Temos dois luxuosos teatros, erguidos
pela iniciativa de nossos governantes, com recursos públicos muito sabiamente
empregados: um para eventos esportivos, outro para culturais. Sendo ambos
públicos, o acesso do povo é irrestrito, devendo apenas, em dias de espetáculos,
o espectador pagar um módico ingresso, para fins de manutenção do local e
custear a atração ora apresentada. Assim, com cerca de meio salário mínimo, uma
família composta por pai, mãe e um filho, poderão ir à vontade, sempre que
tiver uma atração esportiva (o futebol é deveras apreciado), ou uma das tantas
peças teatrais que jamais deixam de perfazer o eixo Rio-São Paulo-Joinville. No
nosso teatro, ocorre ainda o maior festival de dança do mundo, prestigiado por
toda a população que se envolve de maneira exemplar e prestigia cada
apresentação. Ninguém, nem mesmo os moradores das zonas mais distantes ficam
alheios a este mega-evento cultural. E como de costume, qualquer um pode
prestigiar as apresentações, pagando o tradicional módico ingresso.
A natureza também nos favorece e a ela
prestamos sempre nossa reverência e respeito. Exemplo disso é a sede do poder
local, a prefeitura, erguida às margens do nosso principal rio, o Cachoeira.
Todo visitante que for à prefeitura poderá perceber nosso zelo, pois ao longo
das margens do rio, além da própria prefeitura, erguem-se monumentos, praças,
calçadões, tudo para homenagear aquele que foi o primeiro caminho por onde
vieram nossos Ancestrais Europeus.
Também somos muito bem servidos no que
tange a alta gastronomia, não devendo nada aso principais centros europeus.
Muitas sãos as opções, desde o tradicional churrasco, passando por comida
japonesa, italiana, chinesa, grega (nosso arroz à grega é mundialmente
famosos), árabe, francesa e internacional. E tudo muito acessível a todos os
bolsos. Aquela família que foi ao tetro, após o espetáculo poderá jantar, como
se no Velho Continente estivesse, gastando pouco menos de meio salário mínimo,
ou seja, poderá enriquecer imensamente o espírito e satisfazer a carne
plenamente, sem precisar comprometer seus rendimentos mensais.
Apesar de tantas oportunidades de acesso
aos eventos culturais e gastronômicos, muitos ainda mantêm-se arredios em
saírem de seus bairros, preferindo manterem-se distantes do centro, o que não é
de todo ruim, pois evita que se agrave o já preocupante número de congestionamentos
no trânsito.
Preocupado com alguma possibilidade de o
povo não participar ativamente dos eventos da cidade, o poder público, para as
festas de Natal, montou uma suntuosa decoração com motivos natalinos, em um
local estratégico: bem ao lado do terminal urbano de ônibus. Estratégico pois
fica em uma ampla e bela praça, e como dissemos, ao lado do terminal de ônibus,
além de ser de acesso inteiramente gratuito. Para ver as maravilhas que ali
foram instaladas, qualquer família pode pegar o ônibus e, a poucos passos do
desembarque poderá ver bonecos de neve, caixas coloridas, Papais Noel, um
presépio, tudo ao ar livre. O sol escaldante de dezembro diminui um pouco o
afluxo de visitantes durante o dia, mas à noite, as constantes chuvas de verão
refrescam o local e permitem maior conforto para a população.
No local encontramos também, uma
completa praça de alimentação, composta pelas mais variadas ofertas de
guloseimas e petiscos: pipoca, algodão doce, espetinhos, milho cozido, morango
com chocolate e muito mais. Como a visitação é gratuita, todos podem saborear
sem preocupações monetárias as delícias oferecidas por verdadeiros chefs da
cozinha popular.
Vale destacar, ainda sobre a decoração
natalina, outro aspecto do local pensado em todos os detalhes. Falamos en passant dos ônibus. Pois bem, como
descrito, a praça fica ao lado do terminal urbano, e além dessa estratégica
proximidade, temos um serviço de transporte coletivo dos melhores do mundo,
além de muito barato. Qualquer um pode ir a qualquer lugar da cidade, sempre
com muito conforto e rapidez, pagando apenas uma simbólica passagem. Ou seja,
não existe desculpa para que todos participem ativamente dos eventos da cidade.
Afinal, permitir que mesmos os moradores das áreas mais afastadas do centro se
desloquem para qualquer lugar, não apenas com o vale-transporte oferecido pelos
empregadores para que não tenham desculpas para faltas, isto sim é incentivar a
democracia e a cidadania. Vive
Joinville!
Fiquei de falar dos defeitos de
Joinville, mas ainda que precise me esforçar para encontra-los é uma obrigação
moral de qualquer pessoa do Bem fazê-lo. Existem na cidade, shoppings centers
que não são exatamente uma referência às nossas tradições, pois lembram em
demasia os melhores shoppings de São Paulo. Isto, que muitos poderiam louvar,
não é favorável à cidade, pois se um estrangeiro que desembarque em nosso
grande aeroporto, tomar um táxi até um desses centros de compra, poderá ter a
falsa ideia de que Joinville é igual a qualquer outra cidade próspera da Europa
e perderá o interesse em conhecer nossas tantas outras maravilhas.
Nem precisaria falar dos já mundialmente
conhecidos adjetivos de Joinville, mas farei apenas brevemente: somos a Cidade
dos Príncipes, nossa tradição nobiliárquica é notória, exemplo é nosso nome,
oriundo do Príncipe de Joinville, que se não fosse a ignóbil esperteza de Luís
Napoleão, teria unificado as casas de Orleans e Bourbon e sido conduzido ao trono da França; Cidade das Flores, pois além da tradicional
Festa das Flores, em cada casa, em cada praça, em cada recanto da cidade,
podemos encontrar os mais belos e floridos jardins; Cidade das Bicicletas, aqui abundam ciclovias
seguras e impecáveis e como nos mais avançados centros europeus, nosso culto
povo sabe dar valor aos pequenos prazeres da vida, como uma agradável pedalada
às margens do Rio Cachoeira; Manchester Catarinense, como a homônima cidade
inglesa, é visível a pujança histórica de nossa portentosa indústria, erguida
pelas mãos valorosas dos colonizadores Europeus e mantida com inegável progresso
pelos seus descendentes.
Eis um pequeno retrato de Joinville:
sejam bem vindos estrangeiros, especialmente do Velho Continente, que poderão
ver os frutos das sementes plantadas por nossos ancestrais comuns.
LM
08/12/2013