Sunday, November 06, 2011

A Anfisbena e as cerejas

Plínio e Bruneto Latini a descreveram, cada qual a seu modo, se não a viram, intuíram-na e Sir Thomas Browne a negou, mas isto não impediu a Anfisbena de ter existido. Muito menos impediu-a de ter experimentado do fruto proibido. No Tratadus Originalis, de Augustiano Priemeto a clássica descrição do fruto proibido como sendo uma maçã é categoricamente refutada e, em seu lugar o autor coloca a cereja. A troca do fruto deu origem ao mito no qual o veneno da Anfisbena se teria originado de duas cerejas da árvore do bem e do mal colocadas em cada presa. Tendo a Anfisbena duas cabeças, podemos supor ter sido Deus enganado pelo animal que, de forma sutil, escondeu parte de seu corpo. A maldição divina caiu sobre a serpente a Anfisbena, para não chamar a atenção para si, desde então vive esgueirando-se entre sonhos, mitos e realidade. Não há registros conhecidos descrevendo a cereja carregada de veneno, mas a tradição oral vem colocando esta fruta em lugar de destaque em coberturas de bolos e sorvetes, bem como no toque final de drinques e batidas.

Não satisfeita em ludibriar o Criador, a Anfisbena voltou ao local do crime e municiou-se com considerável quantidade de frutos da árvore do Jardim do Éden. Pequenos, tornaram-se carga fácil de ser transportada e este estoque garantiu a perpetuação dos poderes do animal até os dias de hoje. Dizem que quando a Anfisbena se distrai, deixa cair uma cereja e aquele que a encontra e a devora é tomado por alucinações, mas isto ainda não explicaria como ela consegue extrair veneno mortal da fruta. Theodor Kutb Wufniks III nos apresenta o relato de um caçador das Ilhas Salomão, que teria encontrado algumas cerejas em um ninho abandonado de Anfisbena: "Nunca pensei em experimentar este tipo de fruto, sempre tive em bom termo os tantos alertas acerca de seus perigos, mas um átimo de desassossego, experimentei uma. O que parecia ser algo banal e corriqueiro, mostrou-se uma aventura intensa, da primeira ficou um gosto na boca, não sabia se bom ou ruim, e tive de tomar outra. Enquanto se mastiga, não há nada melhor, instantes depois sua cabeça pesa e se arrepende profundamente de ter sucumbido, mas passados alguns dias, volta aquele gosto na boca, nem bom nem ruim e temos de espremer outra entre os dentes." Segundo Wufniks III, o pobre homem perdeu completamente o juízo e partiu, floresta adentro, determinado a exterminar a Anfisbena, ou, segundo os céticos, a tomar-lhe a carga de cerejas.

LM

1 comment:

  1. Anonymous3:54 AM

    Muito bom sr " Elves " Elfo.


    Clemair

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