Sunday, December 01, 2013

Pequena história canina

Não teve o som de palavras, simplesmente enfiou um tapa na minha cara. Fechei com violência minha mão: com um soco quebro aquele nariz esnobe. Algumas pessoas distribuindo folhetos de religião nos olhavam. Se desse o soco, chamariam a polícia, melhor resolver isso depois.
— Sua puta louca! — Falei entre os dentes, enérgico sem gritar. Os crentes nos vigiavam.
— Você é um cachorro! Um cachorro vadio e sarnento que só me procura quando quer dar um trepada.
— Cachorros vadios só vão atrás de cadelas no cio.
Outro tapa. Desviei, se levasse mais um não iria dar a mínima para os crentes. Se aproximavam, disfarçadamente.
— Se tentar me bater mais uma vez, juro pela virgindade de Nossa Senhora que eu te arrebento aqui mesmo.
— Não fique blasfemando, você nem acredita...
— E você acredita muito mesmo! Só esquece um pouquinho quando tá gemendo e uivando que nem uma cadelinha...
— Cachorro filho da puta! Seu merda!
Xingamentos. Sinal de que estava ficando com tesão.
— Deixa de besteira. Vamos sair daqui antes que aqueles crentes tentem nos converter.
— Você! Eu já frequento a igreja.
— Eu sei, sei que faz tudo direitinho, como manda padre, pastor, bispo, missionário.  É boa esposa, excelente mãe. Só de vez em quando se dá ao direito de aproveitar um quarto de hora, sem fazer mal pra ninguém, só uma relaxada e uma transa bem gostosa com teu cachorro. Uma cerveja. De vez em quando, Deus nem percebe, nem liga.
— Não fala assim de Deus, sabe que acredito.
Perto da praça tinha um hotelzinho, o de sempre. Melhor longe dos olhares santos.
— Vem cá minha cadelinha gostosa.
— Ui! Cachorro filho da puta. Tarado! Vai me deixar de quatro, dar tapas na bunda da tua cadelinha? Ela tá precisando de uma lição. Uma lição bem dura.
— Vou fazer tudo que minha cadelinha gostosa quiser...
— Todo cachorro tem sua cadela.


LM 

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