Sunday, August 10, 2014

O fazedor de nós

N.A.: Contei esta história enquanto desembaraçava os milhares de nós do cabelo da minha filha. Não é lá uma grande história, mas ela parou de reclamar dos puxões da escova e poderá ajudar outros pais, inábeis com as madeixas, a pentearem suas filhinhas.
Em tempo, ao termino da história, o cabelo ficou completamente livre de nós e, modéstia à parte, muito lindo.

O fazedor de nós
Em um vilarejo particularmente agradável, vivia Luana. Ela era uma jovenzinha muito linda e simpática e todos que a conheciam gostavam muito dela. 
Todas as noites, Luana penteava seus longos cabelos, mas isto não impedia de amanhecer com milhares de nozinhos a embaraçar sua cabeleira. Ela acordava com um penteado armado, mais parecendo a juba de um leão. E todas as manhãs levava um tempão passando centenas de vezes a escova em seus cabelos até tirar todos os nós.
Cansada de tanto trabalho com seus cabelos, Luana procurou ajuda. Foi a cabelereiros, que lhe davam cremes. Benzedeiras que lhe davam ervas para chás.  Um boticário lhe deu até uma tesoura.  Nenhuma das receitas de cabelereiros ou benzedeiras funcionou e a tesoura do boticário ainda não era uma opção.
Até que um dia, ela ouviu alguém falar que tantos nós só poderia ser obra de um duende fazedor de nós. Buscou mais informação sobre duendes e descobriu um tipo de armadilha para duendes. Eram umas gaiolinhas feitas com galhos retirados da floresta encantada e era só colocar uma mecha de cabelo dentro da gaiolinha, deixa-la sobre o travesseiro, bem perto do próprio cabelo e dormir. Luana armou logo duas gaiolinhas.
Ao amanhecer, surpresa: havia mesmo um homenzinho resmungão preso em uma das gaiolinhas.
—Então era você! —falou Luana ao prisioneiro.
—Por favor! Tire-me daqui! — Falou suplicante o duende.
—Eu só solto se você prometer que não vai mais fazer nós nos meus cabelos.
—Não posso prometer isto, ele acaba comigo.
—Ele quem? —Quis saber Luana.
—Ele? Eu falei ele? Não, não, devo ter me confundido.
—Eu ouvi muito bem, pode me contar direitinho essa história, senão chamo meu gatinho, ele vai adorar brincar com você.
Luana não tinha um gato, mas o duende não sabia e ficou apavorado com a possibilidade de virar um novelo de lã nas garras de tão perigoso animal.
—Além do mais, eu prometo que se você me contar, não deixarei ninguém fazer mal a você.
Mais aliviado com a promessa de Luana, o pequeno duende contou sua história. Ele recebeu ordens do Lorde Grimm, um poderoso mágico que vivia na Floresta Negra, para todas as noites, fazer quantos nós pudesse nos cabelos de Luana.  Todos no Mundo Mágico temiam Lorde Grimm, ele era muito poderoso e podia se transformar em qualquer coisa. O duende não teve outra escolha. Luana quis saber por que o mago havia dado esta ordem, mas o duende não sabia. Ele só obedecia.
—Pois bem, vamos até a Floresta Negra e eu vou ter uma conversa com esse tal lorde. Ele vai ouvir poucas e boas.
Luana convenceu o duende a leva-la até o castelo do Lorde Grimm, não sem antes reforçar a promessa de que não deixaria ninguém fazer mal a ele.
Chegando ao castelo, Luana, que não tinha medo de nada, foi logo entrando. Os criados correram se esconder e ela ficou só, em um grande salão. Ela chamou, chamou e depois de alguns minutos apareceu um lindo jovem.
—Quero falar com Lorde Grimm, e agora. —Ordenou Luana.
—Pois não, minha querida Luana, sou eu mesmo.
—Ah! Então você sabe quem eu sou e não sou sua querida coisa nenhuma. Quero saber que história é essa de obrigar aquele pobre duende a encher meus cabelos de nós. Graças a essa sua brincadeira de mau gosto, tenho de passar horas escovando meus cabelos todas as manhãs.
—Me desculpe. Prometo que isto não vai mais acontecer. — Ele parecia arrependido e muito triste.
—É bom mesmo! Mas afinal, por que você fazia esta maldade? Quis saber Luana, antes de ir embora.
—Vou lhe contar tudo. Depois irei embora para sempre, irei para as montanhas, onde viverei solitário.
Ele contou que um dia passeava pelo bosque, quando viu Luana penteando seus lindos cabelos. A visão de tão bela jovem encheu seu coração de alegria e ele ficou imediatamente apaixonado. Sabendo que todos o temiam e receoso de que a jovem não quisesse saber de conversa com tão mal falado mago, ele bolou um plano: mandou o duende dar os nós, todas as noites e pela manhã, Lorde Grimm se transformava na escova utilizada por Luana. Assim podia ficar horas e horas acariciando seus cabelos e sentindo seu doce perfume.
Lorde Grimm parecia estar falando com sinceridade. Isto fez Luana esquecer que estava zangada e ficou enternecida com a história.
Bem, ele era um belo rapaz e no final das contas, acabou conquistando o coração de Luana. E isto foi motivo de alegria para todos, pois ela ensinou a ele, que não se deve amedrontar os mais fracos. Lorde Grimm aprendeu a tratar todos com respeito e de temido, passou a ser admirado. Então eles se casaram e viveram felizes para sempre.


LM

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