Sunday, May 27, 2012

Farfallândia

N.A.: Desde quando expliquei para Luana que tinha um blog e o que era, ela me cobra para eu postar suas histórias, de preferência com a personagem principal com o seu nome. Tentei explicar que mesmo usando nomes de pessoas que conhecemos, a partir do momento em que vai para uma história, passa a ser o personagem e não mais a pessoa. Ela não quis saber dessas coisas, então, eis mais um pequeno conto de ventos e outras fantasias, com minha personagem favorita.

  
 

Em Farfallândia viviam as mais belas borboletas, cheias de cores, tantas que um pintor, daqueles dados a ataques de tragicidade, seria capaz de cortar um braço para ter em sua paleta tamanha quantidade de variantes cromáticas. Apesar da infinidade de tons desfilando em asas ligeiras, cada borboleta tinha apenas uma cor, nada de misturas, mas eram tantas as cores que não seria nenhuma surpresa descobrir não haver repetição, cada borboletinha com sua tonalidade própria.

A vida seguia em seu curso normal naquela vila multicolorida quando, até que em uma noite especial, em que a lua tanto encheu-se de brilho para exibir o maior luar já visto, nasceu uma borboletinha diferente, com asas completamente brancas. Nunca isto havia acontecido em Farfallândia então, vendo aquela criaturinha com asas brancas como uma pálida lua cheia, seus pais deram-lhe o nome de Luana.

A enluarada borboletinha cresceu alegre e amada, ela era muito simpática, carinhosa e, graças a sua cor singular, todos na vila a conheciam. Então chegou o a época de ir para escola. Luana estava ansiosa para poder conhecer novos amiguinhos, mas no primeiro dia de aula ela percebeu que não seria assim tão fácil quanto imaginava. As outras borboletinhas, que nunca tinham visto borboleta com asas sem o tradicional colorido, começaram a rir e fazer perguntas que Luana não sabia responder.

— Cadê sua cor?

— Você vai ficar colorida como a gente?

— Isso dói?

— Você pode voar?

As pequenas borboletas não sabiam que apesar da coloração diferente, Luana era uma borboleta igual a qualquer outra e podia fazer as mesmas coisas que as outras borboletas de sua idade. Isto deixou Luana muito triste e ela resolveu ir embora de Farfallândia. Tinha ouvido histórias sobre um mestre das cores, um artista muito habilidoso que morava no outro lado do bosque e decidiu procurá-lo. Não sabia ainda como este mestre das cores poderia ajudá-la, mas estava resolvida e partiu.

Não foi muito difícil encontrar a casa do mestre das cores, ele morava em uma cabana cercada por flores de todas as cores, ao lado da casinha, corria um riacho que desaguava em uma cascatinha. Os respingos levantados pela queda d´água se encontravam com os raios do sol e formavam um arco-íris permanente. Tudo ali era colorido, parecia ter sido cuidadosamente decorado por um meticuloso artista. O lugar era tão bonito que Luana nem teve medo e foi logo chamando pelo dono da casa.

— Olá! Senhor mestre pintor! Senhor mestre das cores! Gritou Luana

— Pois não. Em que posso ajudá-la? Respondeu o mestre, que não era um mestre, mas uma mestra, saindo de dentro da casinha.

— Oi! Meu nome é Luana, meu nome é assim porque nasci em uma noite de lua cheia e minhas asas são brancas como o luar e eu venho de Farfallândia.

— Olá! Eu sou Tarsila do Arco-íris, meu nome é assim por causa do arco-íris perto de minha casa.

As duas logo começaram a conversar e perceberam que seriam boas amigas e Luana até esqueceu o motivo de sua viagem, até que Tarsila perguntou.

— Mas o que você faz por aqui, tão longe de seus amigos?

Luana contou como estava triste por não ter cores tão vibrantes em suas asas como as outras borboletas e queria saber se Tarsila poderia ajudar a colorir suas asas. A mestra das cores deu uma grande gargalhada.

— Não seja tola minha amiguinha! Você já se olhou no espelho? Suas asas são as mais luminosas e brilhantes que já vi, como se fosse o próprio brilho do luar e elas são brancas porque têm todas as cores misturadas.

— Como assim? Todas as cores? Quis saber Luana.

— Vou te explicar. Falou a mestra. Nossos olhos não conseguem enxergar direito as cores, e o que vemos é o reflexo da luz. Isto é meio complicado, mas é mais ou menos assim e quando misturamos a luz de todas as cores sabe que cor temos?

— Uma cor multicolorida? Falou Luana.

— Não. Temos a cor branca. Então minha amiguinha, suas asas refletem todas as cores das asas das outras borboletas e é por isso que ela fica branca quando olhamos. Seu colorido único traz as cores de todas as outras borboletas e eu nunca vi asas tão brilhantes quanto as suas.

—Puxa vida, então eu não preciso ter vergonha de minha palidez.

—Nunca e se os outros riem de você, é porque não sabem direito das coisas. Agora volte para sua família e tenha muito orgulho de suas maravilhosas asas.

Luana voltou para Farfallaândia, mas algo terrível estava prestes a acontecer em sua vila. Um enorme e esfomeado sapo encontrara a vila e se preparava para um delicioso e colorido banquete. Vendo aquilo e vendo suas amiguinhas em desespero, Luana não teve dúvidas e rapidamente bolou um plano. Ela voou em direção ao sapão. Abriu suas enormes e brilhantes asas na frente do guloso, que vendo aquele espetáculo, esqueceu das outras borboletas e saiu pulando em direção aquele intenso brilho. Luana foi voando lentamente em direção a um abismo que existia ali perto, sempre tomando cuidado para manter-se a uma distância segura do sapão. Hipnotizado pelo espetáculo das asas da corajosa borboletinha, ele nem percebeu que pulava para uma grande queda. Depois de ter se esborrachado e quase morrido, o sapo guloso não quis mais saber de atacar borboletas, coloridas ou não.

Em Farfallândia todos receberam Luana com muita festa e pompa e depois daquele dia, ninguém mais riu das suas brancas e brilhantes asas. Dizem até, que algumas borboletas mais invejosas até quiseram se pintar de branco para ficarem parecidas com Luana, mas o máximo que conseguiram foi borrar suas asas.

 
 

LM

1 comment:

  1. Anonymous8:34 AM

    Que historia mais linda,

    kalamed ali

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