Sunday, November 11, 2012

Um lugar


Acordou como quem volta da morte, sem lembranças ou esperanças, não havia passado nem futuro e o presente era pálido e impreciso. Pouco sabia de si, sabia apenas do despertar. Sem passado, tentou estabelecer lembranças a partir do momento em que acordara, mas não podia distinguir onde estava, quanto tempo se passara, como era seu rosto, por fim desistiu e contentou-se em permanecer apenas no presente, o futuro seria muito mais penoso de intuir.

Tentou identificar onde poderia estas, havia uma luz difusa, pálida, vinda de todos os lados e conjeturou ser aquele lugar o limbo, haviam elementos suficientes para supor isto.

 

Ouvi-lo, em dor o coração me lança,

Pois muitos conheci de alta valia,

A quem do Limbo a suspensão alcança.

 

E por uma centelha de lembrança almejou a suspensão daquele sítio onde o nada impera, onde o bem e o mal não habitam e nem querem habitar, onde o choro é por algo que se não conhece nem se sabe alcançável. E a mesma centelha de antes o fez tremer: se fosse o limbo, então estaria morto. Mas se estivesse morto, certamente estaria no inferno e ali não poderia ser o inferno, afinal o inferno são os outros. Beliscou-se e sentiu a carne, apalpou-se e sentiu o calor, soprou e sentiu o ar dos pulmões. Eram indícios de ainda estar vivo. Sentiu medo, mesmo assim começou a explorar o local. Tentou estabelecer dimensões de onde estava, mas percebeu a inutilidade disto, porém inquietou-se tentando saber de onde poderia ter tirado tal ideia. Tentou seguir em direção ao centro, temendo imensamente encontrar um poço. Pouco sabia de poços, muito menos porque teme-los, de qualquer modo nada havia onde parecia ser o centro.

Exausto, deitou-se e dormiu. Teve sonhos impróprios, inquietantes e nos sonhos ele próprio agitava-se como louco e, de longe, parecia uma mosca. Pensou em sonhar mais do que um sonho, em sonhar uma realidade possível, longe daquele não-lugar, entretanto este mesmo pensamento já era apenas um sonho e por fim acordou mais exausto do que antes.

Precisava sair, fugir, ir para outro lugar, ninguém viria para salvá-lo. Tomou distância e correu a com toda a energia e arremessou-se contra a parede projetando a cabeça. Por um brevíssimo instante pode escutar os estalos secos do  dos ossos do crânio quebrando e o espatifar dos miolos. Depois tudo voltou ao silêncio.

Ficou desacordado por tanto tempo quanto uma vida e o recobrar da consciência não passava de uma ameaça de despertar, como quando se está em profundo sono prestes a acordar, mas ainda sem forças para fazê-lo. Não conseguia abrir os olhos, tampouco tinha conhecimento se permanecia no local de antes. Também não distinguia nenhum som ou qualquer indício exterior. Conseguiu lembrar-se da pancada na cabeça e pensou que desta vez poderia estar mesmo morto, pois não conseguia mover-se. Mesmo lembrando do incidente, teve dúvidas dos motivos que o levaram a tomar tal atitude. Não sabia se tentava arrebentar a parede ou se estava apenas tentando por fim à vida. Estes pensamentos consumiram um grande tempo, impossível de ser medido, mas longo suficiente até que ele pudesse abrir os olhos e levantar-se novamente. Ainda estava no mesmo local.

    Procurou vestígios do ferimento e não havia sangue pelo chão, nem marcas em sua testa. Tudo estava como antes, continuaria tentando encontrar uma saída inexistente, a entender de onde viera onde estava para onde iria, tentaria sentir-se menos inútil e mais valorizado do que realmente era. Certamente daria novas cabeçadas nas paredes, esqueceria coisas importantes, mas consolar-se-ia ao lembrar de que nada parecia ser importante ali. Iria correr desesperadamente em círculos sem nunca chegar a lugar algum e mesmo assim, para não ter perigo de esquecer o trajeto da desvairada correria, refaria novamente o trajeto, até chegar ao ponto da partida. Latejava-lhe a cabeça e sentia uma leve náusea, afora o mal estar, tudo estava perfeitamente normal.

 

Luiz Mendes

11/11/2012   

1 comment:

  1. Anonymous11:25 AM

    ele voltou.....ele voltou.....

    carlos shorodor

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