Acordou como quem
volta da morte, sem lembranças ou esperanças, não havia passado nem futuro e o
presente era pálido e impreciso. Pouco sabia de si, sabia apenas do despertar.
Sem passado, tentou estabelecer lembranças a partir do momento em que acordara,
mas não podia distinguir onde estava, quanto tempo se passara, como era seu
rosto, por fim desistiu e contentou-se em permanecer apenas no presente, o
futuro seria muito mais penoso de intuir.
Tentou identificar
onde poderia estas, havia uma luz difusa, pálida, vinda de todos os lados e
conjeturou ser aquele lugar o limbo, haviam elementos suficientes para supor
isto.
Ouvi-lo, em dor o coração me lança,
Pois muitos conheci de alta valia,
A quem do Limbo a suspensão alcança.
E por uma centelha
de lembrança almejou a suspensão daquele sítio onde o nada impera, onde o bem e
o mal não habitam e nem querem habitar, onde o choro é por algo que se não
conhece nem se sabe alcançável. E a mesma centelha de antes o fez tremer: se
fosse o limbo, então estaria morto. Mas se estivesse morto, certamente estaria
no inferno e ali não poderia ser o inferno, afinal o inferno são os outros. Beliscou-se
e sentiu a carne, apalpou-se e sentiu o calor, soprou e sentiu o ar dos
pulmões. Eram indícios de ainda estar vivo. Sentiu medo, mesmo assim começou a
explorar o local. Tentou estabelecer dimensões de onde estava, mas percebeu a
inutilidade disto, porém inquietou-se tentando saber de onde poderia ter tirado
tal ideia. Tentou seguir em direção ao centro, temendo imensamente encontrar um
poço. Pouco sabia de poços, muito menos porque teme-los, de qualquer modo nada
havia onde parecia ser o centro.
Exausto, deitou-se
e dormiu. Teve sonhos impróprios, inquietantes e nos sonhos ele próprio
agitava-se como louco e, de longe, parecia uma mosca. Pensou em sonhar mais do
que um sonho, em sonhar uma realidade possível, longe daquele não-lugar,
entretanto este mesmo pensamento já era apenas um sonho e por fim acordou mais
exausto do que antes.
Precisava sair,
fugir, ir para outro lugar, ninguém viria para salvá-lo. Tomou distância e
correu a com toda a energia e arremessou-se contra a parede projetando a
cabeça. Por um brevíssimo instante pode escutar os estalos secos do dos ossos do crânio quebrando e o espatifar
dos miolos. Depois tudo voltou ao silêncio.
Ficou desacordado
por tanto tempo quanto uma vida e o recobrar da consciência não passava de uma
ameaça de despertar, como quando se está em profundo sono prestes a acordar,
mas ainda sem forças para fazê-lo. Não conseguia abrir os olhos, tampouco tinha
conhecimento se permanecia no local de antes. Também não distinguia nenhum som
ou qualquer indício exterior. Conseguiu lembrar-se da pancada na cabeça e
pensou que desta vez poderia estar mesmo morto, pois não conseguia mover-se.
Mesmo lembrando do incidente, teve dúvidas dos motivos que o levaram a tomar
tal atitude. Não sabia se tentava arrebentar a parede ou se estava apenas
tentando por fim à vida. Estes pensamentos consumiram um grande tempo,
impossível de ser medido, mas longo suficiente até que ele pudesse abrir os
olhos e levantar-se novamente. Ainda estava no mesmo local.
Procurou vestígios do ferimento e não havia
sangue pelo chão, nem marcas em sua testa. Tudo estava como antes, continuaria
tentando encontrar uma saída inexistente, a entender de onde viera onde estava
para onde iria, tentaria sentir-se menos inútil e mais valorizado do que
realmente era. Certamente daria novas cabeçadas nas paredes, esqueceria coisas
importantes, mas consolar-se-ia ao lembrar de que nada parecia ser importante
ali. Iria correr desesperadamente em círculos sem nunca chegar a lugar algum e
mesmo assim, para não ter perigo de esquecer o trajeto da desvairada correria,
refaria novamente o trajeto, até chegar ao ponto da partida. Latejava-lhe a
cabeça e sentia uma leve náusea, afora o mal estar, tudo estava perfeitamente
normal.
Luiz Mendes
11/11/2012
ele voltou.....ele voltou.....
ReplyDeletecarlos shorodor