Sunday, November 21, 2010

Acabou a cerveja

Era quase hora do encontro e aquele magricelo com cara de barata não parava de falar. Levantei e comecei a andar de costas pra ver se ele não percebia que eu tava dando no pé. Ele continuava a falar, levantou e veio em minha direção. Falava de economia, política, família, religião, filosofia, sexo, literatura, pagode, tudo num jorro frenético e sem rumo.
Não sei por que simplesmente não dei tchau e fui embora. Talvez por pena ou por, no fundo, me sentir lisonjeado com aquela demonstração de esforço para me impressionar. Procurei um pedaço de pau ou um porrete pra dar uma pancada naquela cabeça sebenta de barata. Desisti. Lembrei que sou muito frouxo pra esse tipo de violência. Pensei em tirar o cacete pra fora da calça e pedir pra ele dar uma chupada, mas fiquei com medo do cretino topar. Seria tão simples informá-lo do meu compromisso e marcar pra continuar a conversa outro dia. Ele não parava de tagarelar. A salvação entrou pela porta da cozinha. A mãe do magricelo chegou.
— Olá Alex, quem é o seu amigo?
A coroa não era nada má. Deveria ter uns 45, bem conservada. Usava um vestido curto e decotado, exibindo dotes antigos, mas ainda apreciáveis.
— É o senhor Luiz Mendes, ele é poeta.
— Oi!— Balbuciei enquanto alternava meu olhar nos peitos e nas pernas.
— Meu filho já falou do senhor.
— Ele nunca falou da senhora. Pelo jeito este nosso Telêmaco prefere ocultar a beleza da sua jovem mãe. — Não compreendo como esse tipo de galanteio funciona, ela nem sabia quem era Telêmaco. — Eu também não sairia falando por aí se tivesse uma mãe tão boa.
— O senhor, me parece, comentou alguma coisa a respeito de um compromisso...— Acho que o cara de barata percebeu minha indiscrição se avolumando nas calças. Tudo bem, não era tanto volume assim, mas a intenção era bem evidente.
— É mesmo. Acabou a cerveja. Vou buscar mais e já volto.

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