Sunday, November 21, 2010

Maria não sabia de aniversários, naqueles sertões, isto é luxo que não cabe. Pelo porte franzino e pouco peso, deveria ter uns cinco anos, pelas feições cheias de seriedade e geadas na pele, uns 11.
Sabia, ou cismava, que uma coisa boa deveria ser o Céu, onde Deus brincava com os anjos, como um pai amoroso faz festa com os filhos. Sem fome, frio, roça, surras, deveria ser mesmo bom o Céu.
Maria olhava, calculava, media mentalmente, intuía e se enchia de certezas: com dois pinheiros, daqueles que dez homens não conseguiam abraçar, posto um em pé sobre a copa do outro, não havia dúvida que ela alcançaria o Céu.
Noutros dias, quando o esforço para por um pinheiro em cima do outro parecia muito, ela olhava para o horizonte e ficava certa que o que via era o Céu tocar a terra. Era só andar para aquela direção e entrar no Céu.

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