Friday, January 14, 2011

Cartas de agradecimento

Nós que não fizemos o anacrônico Juramento de Hipócrates, por vezes pensamos que o médico pode explicar e resolver tudo. Nós, os leigos, sentimos raiva quando recebemos a notícia que determinado tratamento não poderá ser realizado por falta de um medicamento, ou pela deficiência de um equipamento e, às vezes, acabamos descarregando nossa frustração nos médicos que, em nossa ignorância, imaginamos estarem indiferentes à nossas aflições. Condenamos-os porque foram viajar no final de semana, ao invés de ficarem estudando uma maneira de curar nossas doenças, ou de nossos entes queridos. Esquecemos de sua humanidade, de suas limitações, de suas frustrações e pensamos que eles são insensíveis ao sofrimento alheio. Somos tolos, somos pais, somos impulsivos, intempestivos, viscerais e sentimentais, mas, em alguns momentos de racionalidade, enxergamos os médicos como iguais, talvez até mais comprometidos com nossa luta do que nós mesmos, pois têm em suas mãos não um caso igual ao nosso, mas dezenas, centenas e cada paciente, cada pai ou mãe se acha no direito de receber toda a atenção e todo o esforço para si.
Alguns buscam respostas no divino, no metafísico, no espiritual e cobram dos médicos a pouca fé demonstrada. Por vezes, alguns com um pouco mais de conhecimento e com um pouco mais de acesso à informação, se acham mais preparados do que os médicos, fazendo perguntas que estes já responderam nos primeiros meses do curso de medicina. Pacientes e pais de pacientes têm esta mania de procurarem as respostas que os médicos não deram onde suas convicções os levam e acham que todos deveriam compartilhar de tais convicções. A luta pela sobrevivência é o instinto básico mais evidente de qualquer ser vivo e cada um usa suas capacidades e aptidões nesta luta.
Antes que os destinatários desta carta se aborreçam com meus prolegômenos, vamos ao assunto e por mais que até agora não pareça, esta é uma carta de agradecimento. Todos os que acompanham o caso da Luana Mendes sabem o quanto o tumor tem se mostrado resistente a tratamentos e o alto grau de recidividade apresentado, mas, após tantas vicissitudes, conseguimos fazer no Hospital Santa Marcelina, dia 20 de dezembro, a quimioterapia intra-arterial com três drogas (carboplatina, topotecan e melfalano). Vimos como é um procedimento com alto grau de complexidade, dependente de um número muito grande de profissionais altamente habilitados e de um conjunto de suporte bem concatenado e, quando realizado em um hospital com tamanho afluxo de pacientes com as mais variadas enfermidades, depende também de uma generosa dose boa vontade dos médicos e dos demais profissionais envolvidos. Mas o resultado do primeiro exame realizado após este procedimento foi muito animador, pois as sementes vítreas, tão impertinentes e constantes mesmo após inúmeros outros tratamentos, não foram encontradas.
Por isso, queremos deixar registrados nossos mais sinceros agradecimentos a toda equipe médica do Hospital Santa Mercelina especial ao Dr. Sidnei Epelman, chefe da oncopediatria; Dra. Fernanda Barakat, oncopediatra; Dr Francisco, com quem só falamos por telefone, mas que muito contribui para realização do procedimento naquela data; Dr Luiz Fernando Teixeira, oftalmologista e quem nos indicou esta nova possibilidade de tratamento; Dr Marcio Marques (não tenho certeza, mas minha memória quer crer que este é o nome do radioterapeuta intervencionista, tão atencioso que nos explicou, ali mesmo na hemodinâmica , como tudo havia corrido bem com a Luana e nos explicou, rápida e detalhadamente, como fizera o procedimento). Muitos nomes que deveriam estar constando nesta lista, por lapso de memória, por não saber ou por distração ficaram de fora, para estas pessoas, peço minhas desculpas, mas saibam que nossa gratidão não é menor.
Estamos cientes que o resultado do tratamento, apesar de tão alvissareiro, não é definitivo tampouco encerra nossa luta, mas nos dá novo ânimo e renova nossas esperanças. Presenciamos e aprendemos o quão difícil é a realização deste procedimento, mas pedimos a todos os profissionais envolvidos que não desistam de tentar implantar este serviço de modo definitivo e sistemático, não apenas pela Luana, mas por tantas outras crianças, cujos protocolos básicos não obtiveram êxito e cujas visões, e talvez suas vidas, dependam deste tratamento. Esta dose extra de esperança e ânimo alivia nosso sofrimento, o que nos remete às palavras do Dr Drauzio Varella: “Muitos procuram nossa profissão imbuídos do desejo altruístico de salvar vidas. Nesse caso, encontrariam mais realização no Corpo de Bombeiros, porque a lista de doenças para as quais não existe cura é interminável. Curar é finalidade secundária da medicina, se tanto; o objetivo fundamental de nossa profissão é aliviar o sofrimento humano.”


Obrigado a todos.

Luiz Mendes
Sandra Tromm
Luana Mendes

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