Tuesday, July 05, 2011

Não limpe o meio-fio

Há nos entornos de minha casa, como em qualquer casa, uma calçada, daquelas por onde transitam transeuntes, cãezinhos e demais espécies familiarizadas com este tipo de expediente urbano. Há também, e me parece lógico, mas nunca é demais uma explicação complementar, uma rua rente à referida calçada e, como não poderia deixar de estar em outro local, entre a rua e a calçada existe um meio fio. Dispensarei a apresentação deste último, certo de poder estar tratando com pessoas familiarizadas a este tipo de, repetindo, expediente urbano.
Como em qualquer rua, existe tráfego, de automóveis, caminhões, ônibus, motocicletas, uma e outra bicicleta, talvez alguma carroça e todos estes veículos deslocam mais ou menos quantidades de massa de ar, que por sua vez, deslocam mais ou menos grãos de poeira e areia. Parte desta poeira vai parar nas casas, nos escritórios, em hospitais, etc. já a parte contendo partículas maiores, a areia, fica por ali mesmo, na calçada, na rua, mas especialmente no meio fio. Neste acúmulo de areia não é incomum germinarem plantas, não daquelas ornamentais ou comestíveis, mas daquelas que ninguém quer por perto, as ervas daninhas. E é aqui que Josef K. poderia se sentir familiarizado, pois, como bons cidadãos, eu e minha família resolvemos que não é preciso deixar tudo o que é público ao encargo do poder público e pusemo-nos a varrer e capinar a parte do meio fio que já estava nos domínios do município. Feita a limpeza, o resultado foi o acúmulo de alguns sacos contendo areia e mato. Tirar do meio fio e jogar tal entulho no bueiro (como já vi vizinhos fazendo e só agora entendo os motivos deles) não nos pareceu a escolha mais acertada. Ensacamos, tomando o cuidado de não sobrecarregar no peso de cada saco e deixamos para a coleta de lixo.
Poderia continuar no parágrafo anterior, entretanto, para dar fôlego às idéias daqueles que possam achar-me prolixo, continuo neste outro parágrafo. Passou a coleta de lixo, e outra, e mais outra, e ainda outra e nada de levarem os sacos. Talvez os caminhões da coleta regular só possam coletar lixo, ainda que eu não saiba exatamente o que é classificado como lixo. Ligamos para a concessionária responsável pela a coleta (preciso abrir um parêntese: sempre fui contra esta imposição de termos de pagar a uma empresa particular, sem a opção de escolha, por um serviço que é responsabilidade do município, mas isto é assunto para outra discussão) e recebemos a informação de que eles não coletam este tipo de resíduo. O que fazer? Devolver a areia e o mato ao seu local de origem? Talvez no bueiro? No rio, que é para onde iriam a areia, mato e tudo mais que não entupisse o bueiro? Algum terreno baldio das redondezas? E agora vem a pergunta mais intrigante: se algum fiscal da prefeitura nos flagrasse fazendo qualquer uma das alternativas de descarte acima mencionadas? Deixo a resposta para Josef K, tão habituado a este tipo de situação.

LM

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