Sunday, July 24, 2011

Poemas à luz da Lua


I

Habita em minha casa,

feita de fábulas, uma Lua.

Talvez não a mais luminosa,

mas que brilha em meus olhos,

como se o mais fosse nada.

Tenho-a bela,

como se o mais fosse intenção.


 

Tal a lenda do santo,

um dragão de feições mórbidas e

rastro carregado de peçonhas,

cumpre seu papel de mal,

e devora a órbita da Lua.


 

O santo foi para um calendário,

as religiões mataram Deus

e o homem vaga à deriva,

com seus venenos e pretensões,

com ganâncias e vaidades.

Embebedando e fazendo cócegas,

tenta afugentar o dragão.


 


II

na última noite do ano

reuni em festa, umas partes de mim

que estavam guardados

um pedacinho ali, outro na gaveta,

adiante do por-do-sol,

em casas com roupa no varal e um,

de bom tamanho, pertinho da Lua

e cantei

e dancei

e vivi

dediquei tudo à Lua e adormeci

sonhei que cantava, dançava e vivia, com a Lua

cheia de si, iluminando a festa


 


 

iii


 

Uma besta na luz da Lua

devorou o brilho de um hemisfério

e consome o pouco sol

que resta em minha alma.


 

Disseram-me para, humilde,

dobrar os joelhes ante Deus.

Só ele pode devolver a luz.


 

Disseram-me para não questionar

Por que então ele tira-me a luz?

Por que criou a besta?


 

Falam-me de fé, de esperança

para por

querosene

creolina

lama

venenos

óleos

poções

onde só deveria ter a Lua.


 

Para orar aos deuses do céu

aos deuses da terra

e destinar 10% aos fazedores de milagres.


 

Sem o amparo da fé,

ofereço minha vida:

por nenhum deus aceita e

sem valor aos homens.


 

A mesma vida

sem o brilho da Lua,

não passa de um artifício.


 

LM

07/11/2008


 


 


 

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