I
Habita em minha casa,
feita de fábulas, uma Lua.
Talvez não a mais luminosa,
mas que brilha em meus olhos,
como se o mais fosse nada.
Tenho-a bela,
como se o mais fosse intenção.
Tal a lenda do santo,
um dragão de feições mórbidas e
rastro carregado de peçonhas,
cumpre seu papel de mal,
e devora a órbita da Lua.
O santo foi para um calendário,
as religiões mataram Deus
e o homem vaga à deriva,
com seus venenos e pretensões,
com ganâncias e vaidades.
Embebedando e fazendo cócegas,
tenta afugentar o dragão.
II
na última noite do ano
reuni em festa, umas partes de mim
que estavam guardados
um pedacinho ali, outro na gaveta,
adiante do por-do-sol,
em casas com roupa no varal e um,
de bom tamanho, pertinho da Lua
e cantei
e dancei
e vivi
dediquei tudo à Lua e adormeci
sonhei que cantava, dançava e vivia, com a Lua
cheia de si, iluminando a festa
iii
Uma besta na luz da Lua
devorou o brilho de um hemisfério
e consome o pouco sol
que resta em minha alma.
Disseram-me para, humilde,
dobrar os joelhes ante Deus.
Só ele pode devolver a luz.
Disseram-me para não questionar
Por que então ele tira-me a luz?
Por que criou a besta?
Falam-me de fé, de esperança
para por
querosene
creolina
lama
venenos
óleos
poções
onde só deveria ter a Lua.
Para orar aos deuses do céu
aos deuses da terra
e destinar 10% aos fazedores de milagres.
Sem o amparo da fé,
ofereço minha vida:
por nenhum deus aceita e
sem valor aos homens.
A mesma vida
sem o brilho da Lua,
não passa de um artifício.
LM
07/11/2008
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