De uma hora para outra, as formigas deixaram de assaltar o pote de açúcar, os vidros de mel e melado, os biscoitos e calharam de atacar o banheiro. A princípio mal era perceptível o vai e vem de suas perninhas apressadas e, como não havia alimento naquele cômodo, não levantaram suspeitas. Aos poucos o movimento dos formicídeos foi aumentando e só então é que seu real intento ficou claro: não procuravam alimentos, investiam sobre apetrechos de maquiagem e perfumaria, como batons, gloss, fixador, desodorante, perfumes, loção após barba, cremes, nenhum item do gênero ficava impune ao avanço das formigas. Até produtos não apenas estéticos, mas de higiene, como sabonete e creme dental, também sofreram baixas consideráveis.
Intrigada com o descaso aos regalos da cozinha, em detrimento dos acessórios de toucador, Luana pôs-se a investigar. Disfarçou-se de formiga, muniu-se de utensílios de detetive e seguiu os passinhos das diminutas ladras. Esgueirou-se por ladrilhos, tubulações desativadas, frinchas nas paredes até chegar à presença da rainha das formigas. Boa diplomata que era, apresentou-se à soberana e perguntou qual o motivo de tão abrupta mudança de predileção.
— É simples, disse a rainha. Sempre nos alimentamos do mesmo tipo de comida consumida pelos humanos e sempre permanecemos nos labirintos e subterrâneos a nos esconder, agora, deixamos de roubar-lhes seus alimentos, para roubar-lhes sua vaidade. Quem sabe assim, sem tanta vaidade, deixem de ser tão orgulhosos e soberbos e passem a respeitar os diferentes e os mais fracos.
LM
Recomendo este blog a todos, o cara é bom.
ReplyDeleteRafael O souto