Saturday, December 15, 2012

Parte IV

                            Foi meio estranho, eu já estava achando que ela só fazia aquele tipo fatal pra me provocar, como provocaria qualquer otário, até travarmos um daqueles diálogos improváveis no almoxarifado, ela tinha ido buscar algumas brocas.
— O que vai ser hoje gatona?
— Pro serviço... brocas.
— E pra fora do serviço?
— Não sei ainda.
— O que um cara tem que fazer pra sair como uma gata como você?
— Depende. Se for um cara legal, bom amigo, bom pai de família, daí não tem chance, assim já tenho um em casa. Se for um cara querendo se divertir e se for um cara que saiba como tratar uma mulher, é só convidar.
— Que tal hoje, depois do serviço?
— Não dá, o Renato vem me pegar todos os dias.
— Aham! Então quando?
— Saio para caminhar todas as noites, lá pelas oito. Tenho até às dez.
                            Marcamos o encontro e o mais estranho é que foi preciso falar muita coisa, fazer galanteios, esse tipo de frescura, ela sabia exatamente o que queria. Fomos a um motelzinho barato, pedi uma cerveja, falamos algumas coisas superficiais e de repente nos agarramos e nos beijamos feito loucos. Arrancamos nossas roupas, não tínhamos tempo a perder com conversas, nossos minutos estavam cronometrados. Foi uma transa muito louca, ela me xingava, me chamava de tarado filho da puta, me baita, cuspia na minha cara dizendo que eu não passava de um maldito vagabundo, e cada xingamento pedia para eu meter mais forte, com raiva, afinal ela era uma menina má que precisava ser castigada, então me pedia para eu botar força e enfiar com raiva.
                            Ficamos uma hora e meia neste frenesi, ela me xingando de filho de uma cadela sarnenta, eu a chamando de vadia sem vergonha, minha putinha porca e nos abraçávamos, nos enroscávamos como se fossemos duas cobras entrelaçadas. Não dava pra saber onde começava um e onde terminava o outro. Ao final eu estava exausto, parecia que tinha brigado por umas duas horas e apanhado uma bela surra. Por um instante ela estava luminosa, mas logo voltou a assumir aquela pose de pantera caçando, esquiva, insinuante, fugidia. Saímos, não falamos quase nada, nos despedimos sem nos beijar. Antes de ir pra minha casa a chamei e perguntei.
— Quando nos encontramos de novo?
— Você até que se comportou bem, tenha paciência, eu te aviso.
                            Os dias seguintes foram um suplício. Eu andava obcecado, só pensava naquela transa, parecia até um garoto depois da primeira fóda. Era só ela aparecer no almoxarifado que eu tinha que ir pra trás das prateleiras tocar uma bronha. Já nem prestava atenção direito no trabalho, entregava material trocado, não dava baixa direito nas saídas e não registrava as entradas. Até que o Lourival me chamou.
— Vai tomar no cu. Você tá querendo sair. É só falar, não fica de sacanagem que eu te ferro, seu merda.
— Não é isso, cara, é que ando com uns problemas, não posso sair agora, eu vou dar um jeito de melhorar.
— Se eu te chamar aqui mais uma vez vai ser pra dar um chute na tua bunda.
— Deixa comigo, não vou dar mole. Quando eu quiser sair te aviso antes.
                            Foram quatro longas semanas, tive de me concentrar, para de me masturbar no serviço e fazer meu servicinho mal feito, até que ela deu o sunal.
— Hoje à noite, no mesmo lugar e hora. Vai quente homem solitário.
                            A segunda transa foi ainda mais louca do que a primeira. Ela parecia estar possuída. Ficava o tempo todo me xingando e provocando “O que você quer aqui seu bosta? Quer me comer? Então fóde feito homem.”, me chamando de filho de uma égua. Não dava tempo para eu descansar, depois de ter gozado a primeira vez, fui tomar uma cerveja, nem pude terminar de beber e ela veio atrás, me abraçou e agarrou minhas bolas, e enquanto se abaixava pra fazer um boquete ia me xingando mais “Seu bundão de merda, se quiser descansar fica em casa se embebedando sozinho, bota essa coisa mole pra funcionar antes que eu arranque tuas bolas.”. E enquanto me sugava até a alma, arranhava minha bunda, minhas pernas, me batia, era mesmo uma pervertida gostosa.
                            Entramos em um acordo tácito. Não falávamos quase nada, quando ela queria sair, dava uma passada no almoxarifado e dizia o horário. No motel de sempre também mal conversávamos, fora os xingamentos mútuos durante a transa, trocávamos no máximo meia dúzia de palavras. Era para ser perfeito, mas eu comecei a querer mais, já tinha o corpo, o prazer carnal, tudo o que poderia me importar, mesmo assim comecei a ficar incomodado. O que eu poderia querer a mais? Não tinha compromisso, podia sair com os amigos, arranjar outras garotas, não precisava dar satisfação alguma, ela não me cobrava nada, não exigia que eu percebesse quando tinha cortado o cabelo, ou quando tinha feito a sobrancelha, era só obtermos prazer sem culpa nem compromisso. O que mais eu poderia querer?

Continua...

LM

No comments:

Post a Comment