Sunday, October 09, 2011

Desejos do Diabo

Ele se disse ser o próprio Diabo, o senhor das trevas, mestre do Inferno e, após esta infernal apresentação, olhava-me fixamente. Depois de um tempo de mútua observação começamos a conversar sobre as propostas e possibilidades daquela noite. Fumávamos, bebíamos cerveja e uma vodka barata vinda de uma garrafa de plástico. Sempre imaginei que ele tivesse gosto mais refinado, pelo menos a cerveja estava bem gelada.

— Tenho sido acusado das maiores injustiças, ele não sabe mais como manter a farsa que se criou em torno da sua igreja e agora tenta encontrar uma justificativa para as próprias mentiras. Veja você, que nem o inferno me pertence, dizem que é meu lar, meu reino, mas não posso nem chegar perto e já sou escorraçado por seus cães de guarda, um bando de lobos em pele de cordeiro, ou melhor, em pele de pombo, aquelas asinhas são ridículas, gosto de imaginar o Batmam com uma capinha emplumada. Minha casa é aqui, embora não possa reclamar, tenho sido muito feliz, sempre tive a mulher que quis na cama que escolhi, sou muito íntimo de algumas das maiores personalidades e as comidas e bebidas daqui não são tão ruins. Mas porque não moro no inferno? Você deve se perguntar. É simples: lá é o porão desta ditadura, é lá que são jogados aqueles que ousaram a pensar de maneira independente, é para lá que vão os que tentam levantar a voz contra os desmandos e as baixezas deste regime. — Achei meio batido esse discurso, mas deixei o cara falando mais merda pra ver até onde ia.

— Sabia que JC foi morto por que tava fazendo a cabeça da negada lá da Palestina e o chefe não gostou? Não foram os judeus e sim o cara quem mandou pendurar o próprio filho, se bem que não sei não se era mesmo filho dele, José andava se esfregando na moça. Bem, isso lá é problema deles e mesmo tendo nascido naquela família, até que o JC não era dos piores, meio pancada, mas boa praça. Bem, deixemos essa conversa e vamos ao que interessa: Compro a tua alma por quinhentos cruzeiros.

— Nem tem mais esse dinheiro. Que diabo mais burro.

— É mesmo? Bem, mas eu quis dizer quinhentos dólares.

— Ta melhorando, já passou até pra dólar.

— E então?

— Quinhentos euros, uns três torrões de erva e mais umas garrafas de vodka russa e podemos discutir os detalhes.

— Bem, vamos aos detalhes: não tenho euros e não sei aonde encontrar erva. Que erva é essa?

— Que caralho de diabo mais tanso. Vai procurar tua turma que já tá me enchendo o saco esse papo de viado. Se não tem dinheiro não leva fungadinha no cangote. Já não ando dando muita sorte ultimamente, pouco serviço, e ainda ter de aturar papo de bicha bêbada. É pra trincar os bago.

— Está aqui, escrito em letras bem legíveis e no jornal, que é pra todo mundo ver: Estivador com diploma universitário. Realizo seus desejos íntimos e profundos.

— Então tá já que tu é um figurão dos infernos, cobro só cem euros.

— Pela alma?

— Não. Só pelo corpo.

— E aquilo sobre quinhentos euros, erva e vodka russa?

— Daí tu leva corpo e alma, mas só por um fim de semana.

— Deus abençoe os classificados.


 

LM

2 comments:

  1. Anonymous3:21 PM

    kkkkk...tu é muito bom no que escreve.

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  2. Anonymous3:25 PM

    papo de bebado é pra acabar!!! legal

    DAVID

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