Sunday, December 11, 2011

Ad hoc

Uma girafa de pelúcia acompanha, ar preocupado, aqueles intermináveis gotejares. Pescoção dobrado, pensativa, o marrom das manchas misturado à tinta de canetinhas coloridas, restos de comida e outros resíduos ali deixados por mãozinhas impacientes. Ela olha sem desviar a atenção, cabeça levemente inclinada para o lado, mas olha fixo a dona das impacientes mãozinhas. Clarinha de quase transparência, duas manchas escuras sob os olhinhos fechados acentuam a palidez. A chupeta fogenãofoge cainãocai da boca até ser reconduzida ao seu devido lugar com estalar de língua e um suspiro. Respira uns ventinhos de bater de asas de borboleta, constante, a não ser pelos suspiros destinados à chupeta.

    Pinga, pinga, pinga, pinga, pinga, pinga, pinga, pinga, pinga, pinga, pinga, gota, gota, gota, gota, gota, gota, gota, gota, gota, gota, SF puro, gota, pingo, gogo, pinta, gota, pingo, pinta, gogo, dramin, gota, pingo, vincristina, gota, pingo, etoposido, gota, pingo pendurados em uma vareta de metal. Mangueirinhas fininhas, transparentes e com a ponta escondida sob a pele unem os pacotes de poções químicas à menina. Enquanto isso, o tempo brinca de acelerar e desacelerar. Gota, pingo, pingo, gota leva o tempo de uma jornada interminável do carro de Apolo, quase uma vida. Já escuro, hora de se recomporem para mais meia jornada interminável do outro dia e o tempo calha de acelerar e leva dois ou três piscares de olhos para já ser amanhã. E acelera de novo quando faz os 21 dias entre os ciclos durarem o tempo de 21 beijinhos apressados.

    Ao lado da girafa um leão e uma zebra dormem, esperando a hora de assumirem seus turnos junto com a menina e eles não sabem, nem os curandeiros, nem os deuses se toda essa droga vai dar conta de matar as células rebeldes.


 

LM

17/02/2009


 

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