Monday, March 12, 2012

quinta


...faz frio estranhou a baixa temperatura para aquela época do ano olhou pela janela e pensou em como o parreiral reagiria com a as mudanças de clima dos últimos tempos e em como estas mudanças o afetavam homem e vindima precisavam aguentar até aparecer um comprador para a quinta olhou novamente pela janela e teve vontade de desistir de por a venda arranjaria outra saída arranjaria um empréstimo hipotecando a propriedade faria uma venda antecipada da produção haveria outra saída e se vendesse não fazia a menor ideia de como falaria ao pai que deveriam desocupar a quinta ir para onde morariam na casinhola da rua do Horto em Armamar lá a calefação era das piores e já não tinha mais força para o corte da lenha o Brasil era agora uma lenda antiga do tempo das histórias ao redor do fogo de quando sonhava em tocar a quinta dos avós deixadas pros lados da rua da Cova da Moura da rua do Cabo da rua da Fonte das história dos tios contando quem era a moura e de ter nosso bisavô feito a cova tinha medo da moura e não podia ir dormir sem olhar em baixo da cama e dentro do guarda roupas estava certo de que ela estaria escondida esperando anoitecer para vir fazer alguma maldade durante o sono agora a moura é apenas um nome qualquer de rua e ele nem isso teve vontade de chorar mas naquela idade o choro já não comove choro de velho é melindre velho chora por qualquer coisa não seria levado a sério seu pranto ainda que estivessem só suas lágrimas ainda que apenas ele soubesse estar chorando choro de velho ninguém liga choram à toa e recolheu seu pesar escutou o som arrastado quase inaudível dos passos do pai era hora da sopa era estranho aquele frio fora de época sopa com batatas cenoura galinha uns e outros temperos era tudo que sabia fazer de sopa não encontrava batata-doce talvez algum dia perguntaria ao pai se ele gostava da sopa como ele estava pequeno fora tão grande forte capaz de erguer uma tora sozinho ouvia muitas histórias sobre os feitos do pai ele não as contava não era de falar de si mas ouvia histórias dos tios de como ele fazia e desfazia não tinha medo de jagunço nem de polícia e agora nem consegue levantar os pés do chão para caminhar e não poderá ser enterrado nos fundos da capela da quinta às vezes o encontrava chorando nada de mais poderia ser só lacrimação involuntária coisa de velho ou saberia de alguma coisa agora gostaria que a moura viesse à noite e o levasse nos levasse pensou em deixar a porta destrancada...

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