Thursday, August 04, 2016

Desamado, condenou o corpo à morte por enforcamento. Subiu no cadafalso, pôs a corda ao redor do pescoço e abriu o alçapão. Caiu, sem morrer, nos excrementos sob o patíbulo. A corda deslizou pescoço acima: estava sem a cabeça, que preferiu ficar escondida detrás da cortina do quarto, comtemplando ela pentear os cabelos.
24/09/2015.

O primeiro sinal da vegetalização foi um pequeno broto, quase uma verruga, próximo ao cotovelo. Mais brotos, folhas, seiva, deram certeza. Decidiu fincar raízes longe dos planos irrealizados. Correu sem sucesso, membros enrijeceram e a coifa encontrou os subterrâneos. Ficou plantado a dois passos do que nunca foi.
23/09/15

Quase um anti-Funes, nasceu com o dom do esquecimento, retinha apenas lembranças escolhidas. Torturas, traumas, infâmias, desilusões, sofrimentos descartava, como se nunca tivessem acontecido. Por engano, distração ou vinho, esqueceu como esquecer e agora é assombrado por memórias ausentes.
22/09/15

Ao entrar na casa deparou-se com o invasor. Teve menção de atacar, o temor o paralisou, sentia-se em desvantagem. Acender da luz fez aumentar o terror: o invasor era seu idêntico. Entre a luta mortal e a fuga, escondeu-se no espelho.
21/09/15

Perdido, precisava fazer uma bússola. Não havia agulha então cortou e usou o indicador. Apontou um caminho incompleto, faltava mais e cortou o antebraço, mudou a direção, mas ainda não chegara suficiente longe. Outro braço, uma perna, faltava pouco: cortou o pescoço.
19-09-15

Garimpava há quase 50 anos e cavou tão fundo que já não chegava a luz dos dias. Desaprendeu os usos dos olhos, esqueceu o que procurava, apenas cavava e quando encontrou o maior diamante, praguejou: Coisa dura! Atrapalha meu serviço.
18-09-15

Para não ver e ouvir tantas iniquidades vazou os olhos e furou os ouvidos. Pensamentos pérfidos continuaram a invadir sua mente. Lobotomizou-se. Livre de distrações, sua palavra tornou-se potente: agora é uma plena pessoa de bem. 
17-09-15

Acordou dentro do escuro, tateou e supôs estar em um caixão. Pânico! Antes pensou em revirar os bolsos. Havia um pedaço de luz e um bilhete dele para ele: Você é eu e estamos mortos então, se achar um pedaço de luz, aproveite o dia.
15-09-15

Recebeu a porção e o aviso de última. Quanto tempo ainda teria? Veio a dúvida: rememorar lembranças, ou idealizar futuros. Para fugir do presente e do fim, dormiu buscando no sonho o passado ou o futuro.

14-09-15

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