Sunday, December 12, 2010

Botbine family

Conheci George Botbine há uns cinco anos, em uma entidade para reabilitação de ex-alcoólatras e, além de tentar largar a garrafa, Botbine tentava também controlar outro vício, ele era o que os especialistas chamam de viciado em sexo. Não sei muito bem como os especialistas conseguem definir exatamente isto, se é pelo número de relações ou se estas relações estão te trazendo problemas, mas se for pela segunda opção, estou nesta estatística, pois a maioria das minhas transas acabaram em problemas, e nem foram tantas assim.
Mas George era do tipo compulsivo, tanto que depois que estabelecemos o mínimo de amizade para entabular um diálogo com meia dúzia de palavras, o sacana foi logo propondo uma fóda. Não dei muita trela e fui logo o desencorajando com um direto do queixo. Não que tenha alguma coisa contra viados, mas o cara era doente e pra ele tanto fazia trepar com homem ou com mulher, desde que estivesse fornicando. Não me admira que também estivesse tentando largar a bebida, afinal quem nunca ouviu falar a respeito da ausência de proprietário de certas partes do corpo dos bêbados. Botbine devia acordar das ressacas com dor de cabeça e sem poder sentar direito.
Pelo jeito ele não ficou muito furioso com o queixo deslocado e continuou a me procurar nas reuniões dos ex-bêbados e não precisei mais dar nenhum direto. Tanto é que até marcamos para tomar uns tragos depois das reuniões. Coisinha pouca, só para não parar de forma abrupta. O cara não era mau sujeito, tinha classe, não misturava bebidas e bebia devagar, enquanto eu entornava uns três ou quatro copos de cerveja, ele ainda estava na metade do primeiro (até acho que ele nem precisava freqüentar as reuniões) e não se alterava muito enquanto enxugava.
As reuniões dos bebuns eram sempre nas terças-feiras, um bom dia para uns tragos (acho que é por isso que não deram muito certo, os organizadores deveriam ter escolhido um outro dia, menos propício a idas no bar) e acabou sendo automático, saíamos dos encontros e íamos, eu e George, até o bar do Schimit. Quando o Schimit soube da minha iniciativa de procurar a entidade antialcoólica, ele deu todo o apoio e até me pagou uma cervejas para comemorar, sem falar que a primeira, das terças era por conta da casa, e como não podia deixar de prestigiar quem me dava tanto apoio, levei meu novo amigo. Foi numa destas terças que ele me explicou 6melhor como era aquele negócio de vício em sexo.
Não sei direito, mas acho que Botibine era um cara de boa família, sempre tinha grana para táxi, andava bem arrumado, com roupas bacanas e falava difícil. Devia estar perto dos cinqüenta e era alto e magro, uma vasta cabeleira começando a branquear. Se eu não soubesse de minha preferência exclusivamente por mulheres, poderia afirmar até que ele era um cara de boa aparência, para não dizer bonito. Bem diferente de mim, que quase sempre estava empenhado no Schimit, alternava minhas duas calças jeans e meia dúzia de camisetas, jamais andava de táxi e era (talvez tenha piorado) feio como a peste e careca. Se eu fosse que nem ele, certamente seria classificado como viciado em sexo, só não ia cantar marmanjos, no máximo um daqueles travestis que parecem mulheres mais bonitas do que qualquer da barangas que eu já peguei.
Voltando à patologia do meu amigo, ele me explicou como não podia mais se controlar e da necessidade em fazer sexo todos os dias, mais de uma vez por dia. No começo ele entrava em chats de relacionamento marcava um encontro com alguma dona solitária, mas estes encontros esporádicos começaram a ser insuficientes e ele começou a contratar profissionais. Nessa época ainda era casado, mas claro que a coisa não poderia durar muito e a mulher foi embora com os dois filhos e uma bela indenização (o cara deveria ser mesmo muito rico). Quando não conseguia encontrar nenhuma das profissionais que o atendia, ele pegava qualquer uma na rua e quando essa brincadeira começou a ficar muito cara, ele passou a vagar pelos becos e a pegar qualquer um que quisesse um pouco de sacanagem, putas velhas, mendigas, ajudantes de pedreiros e agora tanto fazia se ele comesse ou desse, o que precisava era fazer sexo. Isto lhe rendeu muitos dissabores, pois começou a se atracar em qualquer canto, banheiro públicos, terrenos baldios, construções abandonadas e de vez em quando era preso por atentado violento ao pudor. Era hora de procurar ajuda especialmente porque Botbini, que já me confidenciava quase tudo, já não andava levantando direito. Também pudera. De qualquer modo, além das despesas com a putaria, a viadagem e a bebida ele agora, se quisesse ser ativo, tinha que comprar Viagra, ou seja lá que droga usasse. Depois da separação não sobrou tanto, especialmente para os padrões dele e antes que acabasse na sarjeta, procurou um psiquiatra. O médico entupiu George com um punhado de remédios e ele passou a ficar mais tranqüilo, só de vez em quando é que tinha uma recaída, mas nada comparado aos velhos tempos de sacanagem braba.
Não que eu precisasse, mas perguntei a Botbine como funcionava esse negócio de pílula para endurecer, só por curiosidade científica. Ele explicou que não era tomar e ficar de pau duro o tempo todo, mas que quando estimulado a ereção vinha com incrível facilidade, mas nada adianta estar duro se não souber usar direito, me alertou, não sei porque. Ainda por curiosidade científica, perguntei se não tinha sobrado nenhuma, só para eu ver como era, não que precisasse e muito menos que eu não soubesse usar minha ferramenta. Ciência, apenas. Botbine me deu logo duas caixas. Tentei imaginar o motivo que levava alguém a andar com toda aquela droga, mas logo desisti, nem quis perguntar, apenas aceitei a oferta, assim como um pesquisador aceita a amostra de um espécime raro.
Li com atenção metade da bula e peguei minha agenda de telefones. Adriana, casou. Ariane, se mudou para o norte. Beatriz, não lembrava mais de mim. Cláudia, morreu mês passado. Daiana está presa. E assim continuei com minhas infrutíferas tentativas até quase acabarem os créditos do meu cartão de orelhão, quando finalmente consegui falar com Soraia, uma coroa enxuta que conhecia há alguns anos numa festa nostálgica dos anos sessenta. Ela disse que lembrava de mim e disse que ainda não tinha perdido as esperanças de receber minha ligação, isto me animou. Marcamos para eu passar no apartamento dela na noite seguinte.
O prédio era luxuoso caro e Soraia não estava mais tão enxuta quanto na festa dos anos sessenta, penso que talvez minha memória tenha me traído e talvez nem na festa ela fosse enxuta, mas agora não tinha mais o que fazer. Antes de sair de casa segui as instruções da bula e tomei a super pílula que me transformaria em um super-homem e para garantir o resultado, aumentei um pouquinho a dose, na verdade dobrei a quantidade. No caminho botei as mãos nos bolsos e fui mexendo com o belo adormecido, só para me certificar que a droga funcionava mesmo. Assim, quando ela abriu a porta e vi aquela velha magricela e com uns dentinhos muito gastos e amarelados no sorriso, fiquei parado sem saber o que falar ou fazer. Minhas orelhas queimavam, não conseguia respirar direito e parecia que tinha uma chaleira quente em cima da minha cabeça, mas meu membro estava rígido como um pedaço de ferro. Nada mais restava a fazer senão entrar e fazer o serviço. A bula dizia que não deveria ingerir álcool, mas mesmo estando com o membro já pronto, o resto de mim ainda não conseguia a se acostumar com a visão de Soraia, pedi algo para beber e ela trouxe uma generosa e salvadora garrafa de whisky. Bebi logo umas três doses e minhas orelhas queimaram mais ainda, até meus olhos pareciam que queriam saltar das órbitas.
O mal-estar aumentava e já não entendia mais o que ela falava então, sem alternativas, agarrei-a e fui logo metendo minha língua dentro daquela boca que mais parecia um esfregão velho. Ela não perdeu tempo e entregou-se às minhas investidas de maneira dócil e servil. Eu afundava meus dedos na poucas peles e ela se jogava por cima do meu corpo. Como minha ereção não era fruto da minha vontade e como não sabia quando ela passaria, tratei de encontrar uma posição confortável, deitei de barriga para cima e repousei minha cabeça em um travesseiro (minhas orelhas se incendiavam) e deixei que ela fizesse o que quisesse, acho até que cochilei por uns instantes, só acordando quando sentia uma língua entrando em minha boca. Não sei se sonhei, mas lembro de ouvi-la me xingar, chamar de maldito tesudo, filho da puta insaciável, lazarento gostoso e tudo o que tinha a fazer era dar uns tapas nas murchas ancas enquanto as pílulas faziam o resto do trabalho.
Foi uma longa noite e de manhã, quando julguei que Soraia estivesse dormindo, levantei, vesti minhas roupas e fui para a porta, mas ela estava acordada. Ela deve ter dito algo, mas apressei o passo e sai logo do apartamento, antes que ela levantasse e quisesse me abraçar ou coisa parecida. Meu cérebro doía como se tivesse tentado derrubar uma parede à cabeçadas. Fui para casa, mas antes dei uma passada no Schimit, precisava comer um ovo cozido ou um bolinho de carne e tomar um café preto. Botbine estava lá.
─Que merda! Estas pílulas deixaram meu pau duro e irresponsável. Comi uma velha magricela de uns 70 anos. Toma, isso é coisa pra maluco, como não tem nenhuma gostosinha querendo dar pra mim, é melhor eu não ficar com essas porcarias, senão vou traçar só bagulho.
Botbine deu uma gargalhada meio forçada e quando ia falar alguma coisa saí. Passei no mercadinho, comprei uma garrafa de pinga e fui para casa. Ainda não estava bem e a cachaça começava a aquecer minhas entranhas e aliviar meu remorso. Aliás nem sei por que estava me sentindo constrangido, afinal não era a minha primeira velha, nem a primeira feia, talvez nem fosse a última, mas e se ela pensasse que tudo aquilo era por atração à ela? Eu precisava remediar a situação e liguei marcando novo encontro, ela ficou surpresa, mas não declinou e à noite lá estava eu à sua porta, sóbrio, sem super pílulas e feio como sempre. Entrei e enquanto ela preparava um trago, percebi na mesa da sala, dois copos de whisky pela metade.
─Tem visita?
─Ah! Não é ninguém, só meu filho que veio dar um beijo na mamãe. Ele está no banheiro.
Botbine apareceu, impecável como sempre.
─Ora, ora. Se não é meu velho amigo Charles Trezinni.
Fiquei com uma baita vontade de enfiar a mão na cara daquele cretino, mas preferi deixar para lá, afinal o filho da puta era ele. Conversamos amenidades, como se fossemos bons vizinhos em uma manhã de domingo na primavera conversando enquanto as crianças brincam no quintal e nossas belas esposas preparam o almoço.
─Sabe mamãe, Trezinni é poeta e até acho que já publicou uns dois ou três livros.
─Na verdade só tive dois trabalhos publicados em coletâneas. Faço alguns serviços de free lance para jornais e revistas.
─Mas é apenas um primeiro passo, tenho certeza que assim que descobrirem seu talento não faltará quem queira publicar seus livros.
Que filho da puta falso, até outro dia era um louco fodedor e alcoólatra semi arruinado, agora tava ali me zoando. Mais do que nunca me decidi a foder com a mãe do cretino nem que tivesse de comer Viagra com farinha e se ele bobeasse, fodia o rabo dele também. Nos cumprimentamos cordialmente e ele saiu. Peguei a garrafa e comecei a tomar no gargalo mesmo, enquanto Soraia preparava uns pasteizinhos de atum na cozinha. Aquela cena todo, como eu havia chego até aquele ponto, as reuniões dos bebuns, o Viagra, minha vida patética me fizeram como que despertar de um estado de torpor. Decidi sair daquela casa e daquela família de loucos, mudar, arranjar um emprego sério, comprar uma casinha, casar como uma boa mulher que cuide de mim, ter filhos para poder correr com um cachorro e, quem sabe, ser feliz. Soraia trouxe os pastéis, estavam muito bons, comeria só uns três e depois sairia de uma vez. Tomei mais uns goles e senti aquela língua velha entrando em minha boca. Talvez só esta última trepada, para provar que não preciso de pílulas e depois mudaria de vida. Como era de se esperar brochei e tive de satisfazê-la com língua e dedos, acabei dormindo no aparamento da senhora Botbine. Pela manhã ela me deu um punhado de dinheiro, era mais do que eu ganhava em um mês todo.
─Compre umas roupas novas e bonitas, alguma bebida e fale com George, ele tem uma receita ótima para certos probleminhas. ─ E fez um gesto com dedo indicador se encolhendo.
Mais baixo do que isto eu não poderia chegar. Então lembrei da minha resolução da noite anterior e resolvi adiar por uns dias, talvez ainda pudesse tirar mais alguns trocados da velha.

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