Sunday, December 05, 2010

A primeira confissão

No dia da primeira confissão, Charles Trezinni, miúdo demais para os doze anos, tremia com a possibilidade de contar ao padre tantos pecados: pensava em como poderia falar que tocava punheta sem falar a palavra punheta ─ o que poderia ser um novo pecado ─, muito menos pensar na punheta, como estava fazendo, pois ainda que para encontrar um meio de falar para o sacerdote, já devia ser um baita pecado.
A fila de meninos andou e chegou sua vez.
— Padre, eu fiz umas coisas...
— Mentiu, desobedeceu aos pais, brigou com irmãos, teve preguiça?
Muitos nãos, mas tinha uma coisa.
— No banheiro, sabe né, começo a brincar...
Sem prestar muita atenção ao tormento do menino, o padre manda rezar dez Pai Nossos e dez Aves Maria. Aliviado por ter conseguido falar, mas frustrado diante de tanta indiferença ante algo tão importante e pecaminoso, Charles elegeu aquela sua última confissão e continuou a tocar punheta, muita punheta, certo, já naquela idade, de que o inferno o esperava e nada mais havia a fazer.

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